Quem é Deus?
As perguntas feitas com mais frequência sobre Deus dizem respeito à sua indentidade. Quem é Deus? Como ele é? Que fontes de informações podemos utilizar para conhecermos a natureza de Deus?
As informações que temos acerca de Deus procedem de quatro fontes: a natureza, a Bíblia, a pessoa de Jesus Cristo e o espírito e a mente do homem.
Afirmações bíblicas mostram que:
Deus é eterno. Ele sempre existiu e sempre existirá. Nunca houve uma época em que Deus não existisse.
Deus tem a forma de um espírito. Ele é um espírito invisível e eterno.
Deus é a perfeição plena. Ele não precisa de nada ou ninguém para existir. Ele é completo em si mesmo. Ele é o espírito perfeito, eterno.
Além disso, é o único Deus que há. Não existe outro Deus, nem mais nem menos poderoso.
Deus também possui personalidade. Isto significa que ele é dotado de inteligência, vontade, sentimento e autoconhecimento. Ele não é uma força obscura e criativa.
Uma definição elementar de Deus, que toma por base estas últimas afirmações, compõe-se dos seguintes fatos: Deus é um espírito eterno que tem personalidade e que é a perfeição absoluta; é o único Deus que já existiu e que sempre existirá; ele se revelou à humanidade através da natureza, das páginas da Bíblia e, definitivamente, através da pessoa de Jesus Cristo.
Agora que temos um ponto de partida podemos começar a fazer mais perguntas sobre a existência de Deus, seu caráter, o que ele tem feito e as formas como se relaciona conosco individualmente.
Quem Criou Deus? De Onde Ele Veio?
As pessoas continuam fazendo aquelas velhas pergunatas sobre a origem de Deus: Quem criou Deus? - considerando-se que ele existe. De onde surgiu? Como veio a ser Deus? Ele teve princípio? Teve pai e mãe?
Ninguém criou Deus. Ele é, por natureza, o Deus eterno. Ninguém o criou - ele sempre foi, é, e sempre será. Ele não se esforçou para chegar à posição de Deus, nem a herdou de seus pais, pois não os têve - nem pai nem mãe. Ele não tem princípio e não terá fim. A Bíblia enfatiza a eternidade de Deus.
Escreveu o salmista: “...sim, de eternidade a eternidade tu és Deus” (Sal. 90:2).
Abraão o pai da raça hebraica, vereficou que Deus é eterno. “Abraão plantou uma tamargueira em Beer-Seba, e invocou ali o nome de Senhor, Deus eterno” (Gên. 21:31).
Deus disse no livro de Deuteronômio: “Pois levanto a minha mão ao céu, e digo: Como eu vivo para sempre...” (Deut. 32:40).
Algumas pessoas podem argumentar que estas afirmações fogem a pergunta pois pressupõe o que deveria ser provado. Elas partem comodamente da pressuposição de que Deus existe mas não explicam como nem por que ele existe.
Contudo, o ponto de partida, segundo a Bíblia, é Deus. Deus estava no princípio e tudo se origina nele.
Se não existisse, faria alguma diferença
Ah, se de fato acreditássemos! Tudo seria fácil, muito mais fácil. É difícil, ou praticamente impossível, conseguir-se alguma coisa sem a fé e a convicção. A dúvida deixa os homens dispersos... Não há justificativa para a abnegação e o sacrifício, vivendo na insegurança.
Ah, se de fato acreditássemos! Quando a gente tem certeza de alguma coisa, a caminhada é suave e tranqüila. Reacende a determinação, o caminho se alarga e não há empecilho que nos esmoreça. Ninguém faria nada de errado se realmente acreditasse nas conseqüências. Quem se atirará ao fogo, espontaneamente? Quem saltará de um navio em alto mar para ficar à deriva? As pessoas quando estão certas de uma coisa, agem com sensatez. Se estão convictos de uma coisa, agem para alcançar o objetivo.
Ah, se fosse possível crer sem reservas! O mundo seria outro mundo; as pessoas, outras pessoas. Como é difícil crer! Perdidos em nossa inconstância, vamos tropeçando, sofrendo e sofrendo.
Ah, se pudéssemos afirmar com o coração: De fato, Deus existe! Como seriam diferentes os nossos sorrisos, as nossas ações, os nossos tratos com o semelhante. Mas a gente não acredita: duvida apenas. Vemos na escuridão metuenda de nossa mente, nas águas eternas de nosso oceano de dúvidas, uma remota possibilidade de, um dia, ter de prestar conta a alguém muito superior às nossas forças. Este alguém poderá massacrar-nos, impingir-nos castigos eternos... Medo. Apenas resquício de temor possível: salto no escuro.
Ah!, por que tem que ser assim? Por que deixaram esta escrita confusa ao nosso entendimento? Como é difícil crer! Por que acreditar sem ver no que apenas se imagina? Por que a fé e não o tato? Por que esta escrita confusa, estes símbolos salvatérios, esta magia de palavras e enunciados, aparentemente paradoxais, estes acontecimentos incríveis que dizem e desdizem, que provam e desaprovam, que vivifica e ao mesmo tempo mata? Mesmo assim, é preciso crer; sem a fé não há salvação.
Ah, como seria bom se pudéssemos crer! Confiar, em detrimento da ciência, das provas, das aparências. Quão maravilhoso seria se pudéssemos entender, "apalpar com o tato" de nossa limitada razão. Mas não é assim, nunca foi e, certamente, jamais o será.
Por que assim, ó Criador de nós? Nada há, existiu ou passará a existir, sem sua permissão. Está em todo lugar, em todo momento; cavalga em cada átomo do infinito e nenhum cabelo se desprende sem sua ciência. Até o mal foi criado. Tudo existe porque quer e só existirá enquanto quiser. Tudo é seu, só seu e de mais ninguém.
Ah, como seria bom se pudéssemos entender essas coisas! Vejo o mundo perdido, o mal arraigado, infiltrando-se, destruindo, aniquilando a tudo e a todos. Vejo tudo isto, sinto que estamos entre penhascos desolados, permeio a um infinito de estradas diversas, em plena escuridão das incertezas. Por que tem de ser assim?
Ah, como seria bom se pudéssemos entender essas coisas! Saber o porquê Deus de Deus haver escolhido este caminho. Minh’alma vive angustiada. É difícil ter paz sem acreditar plenamente. Precisamos acreditar. A fé é o nosso passaporte perdido, precisamos dele, precisamos encontrá-lo.
Não me peçam a simplicidade dos ingênuos, nem a ingenuidade das crianças, ou ainda, a mentira dos que afirmam apenas para enganar. Preciso de uma afirmativa da alma, endossada pelos sentimentos puros do coração.
Por que Deus escolheu este caminho? Por que não elimina o mal e deixa sua criação feliz? Que reino poderoso e adverso é este que impede? Será impossível ao Criador de tudo, desfazer o mal? Criou Ele um ente rebelde do qual não poderá mais se livrar? Que guerra é esta? Onde e por que se firmou este acordo?
Ah, como é bonito um ser humano que crê, que tem fé! Não acredito haver nada mais maravilhoso que uma criatura prestativa, sem maldade, justa e paciente. Por que não somos todos assim? Por que a ganância, o egoísmo, a sede do poder e do prestígio? Por que tem de ser desta maneira?
Ah, se pudéssemos saber o porquê de tudo isto! Se irrompesse dentro de nossa alma uma luz forte que clareasse os desvãos mais obscuros e tristes onde se aninham as incertezas, as angústias, as descrenças... A gente ouve conselhos, lê grandes místicos, emociona-se com relatos milagrosos, convive com gente cheia de fé; também com gente incrédula, perdida num mundo de incertezas. Ora provas, ora falta de provas; ora Deus intervindo, ora um Buda fazendo maravilhas no comportamento humano. Ora um grito de fé em nome do Deus único rompe as leis naturais; ora um grito de fé, em nome de um deus estranho, também parece operar maravilhas...
A visibilidade do longo caminho é ruim, a chegada urge. Temos que caminhar, seguir e seguir. Ah, como seria bom se não existisse a dúvida! Como seria maravilhoso, se a humanidade inteira tivesse um só Deus e conseguisse entendê-Lo! Como seria bom se o meu Deus escrevesse simples, conforme meu entendimento! Como seria bom se crêssemos de fato!
A dúvida é a amargura do mundo, o desassossego da alma e a fonte viva do infortúnio que grassa nos corações. E por falta de fé que se mata as mais lindas determinações, que se luta, que se avilta a justiça... que se deixa para trás, o rastro deprimente da fome, da miséria e das injustiças sociais.
Ah, se pudéssemos crer! Se a fé penetrasse nos corações, ainda que não entendêssemos o mistério. Se fôssemos como as crianças que imaginam um velho de longas cãs, sentado em cima das nuvens, olhando para baixo, às vezes zangado por causa dos palavrões, das pirraças... Se fôssemos ao menos assim!
Ah, como seria bom se, de fato, eu pudesse sentir aquele prazer indizível dos raros convictos, ao submeterem a mim, sofrimentos e injustiças! Mas não é assim que as coisas se passam. Fica-me no lugar, uma angústia massacrante por uma luta sem segurança, sem certeza.
Ah, a fé! Coisa simples das mais intrincadas. Não adianta apenas querer... ela é uma graça, uma semente sem opção. Nem todos a têm e nem em todos ela nasce. A fé, nem tanto de nós depende. Resta-nos pedi-la, mas é muito difícil consegui-la, sem crer... e pior ainda, crer sem tê-la.
Ah, o dia que todos crerem! Dia de festa, de paz... Congresso eterno do Reino de Deus, que se fará à revelia de nossas angústias.
Será a volta do filho pródigo, a volta do ser criado ao regaço de seu Criador, depois de tantos deslizes e indecisões pelos percalços da existência. O homem veio de Deus, por isto não O esquece, por isso a necessidade extrema de reencontrá-Lo. Haveremos de, mesmo perdidos, caminhar nesta direção, pois estas reminiscências, segundo Platão e Santo Agostinho, são as provas incontestáveis de que viemos das plagas de Deus. Quando estivermos do outro lado, tudo ficará claro e insofismável. Veremos então e exclamaremos também, estarrecidos diante de nossa incredulidade extrema: Ah, como teria sido simples, se tivéssemos crido.
Nesse dia, a fé não terá mais razão de ser - deixará de existir. Decantar-se-á a fórmula dos contrários que originaram as definições de tudo, e tudo o que é mal e incerto, será suprimido para sempre. Olharemos de lá para os que ainda se debatem na terra e ficaremos penalizados de vê-los estonteados diante de tantas dúvidas. E ali, em cima das nuvens, um velho de cãs bem grandes, bonachão, justo e poderoso, rodeado de nós, continuará olhando para baixo, com a paciência eterna de um deus. Sim, porque Deus é fé, e será sempre inútil buscá-Lo nas ciências e nas comprovações. Ele é esta fantasia das crianças, mais real, porém, do que o ar que respiramos e do que o sol que brilha sobre nossas cabeças duras.
Você que vai e que vem pelos duros caminhos da vida; que fica triste, muito triste e, ás vezes, sorri; que não tem caminho definido a trilhar; que como a terra, segue na sua reide incansável pelo infinito, sem ter lugar algum para chegar; que quanto mais luta pela fé, mais dela se sente afastado; que anda por aí em tropeços e angústias; que erra e erra, e depois se entristece; que quer tanto ser um homem honrado, e acaba sempre no desconforto da pusilanimidade; que não encontra mais razão de ter nascido; que perdeu um ente querido; que foi menosprezado e traído no amor; que acreditou e ficou frustrado; que quis entender e não encontrou razão; que luta desde menino, no trabalho estafante, na labuta dura ao sol; que tenta sobreviver honestamente num mundo egoísta; que pé ante pé procura o lugar seguro para pisar em meio ao lamaçal da vida; que ergue os olhos como a buscar amparo, e só vê estrelas, imensidão, insegurança, tudo e nada; que inveja as pessoas que o cercam; que se considera a mais vil e desprezível das criaturas; que reclama, desdiz, lastima-se de sua condição e meio; que se acovarda diante dos infortúnios e se faz vítima diante da má sorte e dos reveses!
Ah! você, que é apenas mais um entre nós: com certeza é apenas mais um, nada tem de diferente. Não sofre nem é mais feliz que ninguém: é apenas mais um. Não inveje o semelhante, pois que, certamente, ele gostaria de estar no seu lugar.
Somos todos iguais, com incertezas, dores e sofrimentos; com apenas lampejos de alegria, e fagulhas de felicidade.
Aquilo que sente e que faz; os caminhos que anda; o espaço que ocupa; as palavras que pronuncia; as revoltas que sente; as necessidades que arregimenta numa sociedade egoísta; o orgulho, a inveja, a ganância, a deslealdade, as tramas, as infidelidades, os desejos escusos, as desonestidades, tudo, tudo mesmo, são achaques naturais que avassalam sua alma e o deixa acabrunhado e desorientado diante de sua consciência.
Todos nós somos iguais no espaço relativo de nosso mundo psíquico; na graça relativa recebida de Deus; nas aptidões e carismas que cada um recebe ao nascer.
"Quem recebe muito, prestará conta do muito; quem pouco recebe, pouca conta tem a prestar."
Nem todo assassino é tão culpado, nem todo santo tão virtuoso. Só Deus sabe quanto um homem progrediu ou regrediu na vida. Nossa função não é ser santo, exclusivamente. Há, entre nós, aqueles que, cujo mérito está em ser apenas, menos criminoso ou mais santo.
Ah!, você que mete as mãos nos bolsos rotos e encontra-os vazios; que vê as prateleiras repletas de iguarias e enquanto seu estômago dói; que respira a poeira imunda da rua, erguida por um carro de luxo veloz, sem poder ter para si, uma bicicleta; que olha, maravilhado, as lojas, enquanto os remendos de sua roupa se desagregam e rasgam!
Que passa as noites no cortiço, ouvindo a melopéia dos mosquitos; a cantilena dos sapos; os uivos melancólicos de cães esqueléticos e sarnentos; que passa horas acordado por não ter uma coberta para amainar o frio cortante!
Ah!, como pensa ter o direito de se revoltar contra Deus e contra a vida? Por que inveja a mansão cercada de vigias, de cães ferozes e aparelhos sofisticados?
Ah, como você é inocente! Lá dentro, estão criaturas como você, enganadas pela falsa idéia de que a felicidade está no conforto e nas riquezas. Lá também, amigo, pulsa um coração de carne; vive um ser humano cheio de defeitos, de fraquezas e desejos vãos, de tudo o que corrompe e corrói. Somos todos iguais. Ricos e pobres sofrem e têm curtos momentos de paz e felicidade.
Não inveje ninguém. Enquanto lhe dói o bolso vazio, dói ao abastado, a ansiedade de ter sempre mais; enquanto o seu estômago dói de fome, o de muitos homens doem por excesso de comida; enquanto tilinta de frio nas noites de inverno, **** sob o cobertor felpudo, o avarento, por um mal negócio ou uma grande conta a saldar. E assim, todos sofrem, todos se tornam iguais no sofrimento.
Agora, se quer ser diferente, procure melhorar a índole que Deus lhe deu; procure aplicar bem as dracmas que recebeu ao nascer. Se uma coisa muito forte o impele ao crime, aos roubos, às drogas, ao mal em si, não se assuste tanto. Procure matar menos, roubar menos, procure afinal, com todas suas forças, melhorar. O resto não é de sua responsabilidade.
Se é um cara que dizem "legal", lembre-se que isto pode ter sido dado a você gratuitamente e não lhe estar custando esforço algum. Se assim for, terá mais conta você a prestar a Deus, do que o criminoso que lutou para cometer menos crimes.
Não tenha dúvida que terá muitas surpresas quando desembarcar na estação da outra existência e ver na sua plataforma, demônios e santos reunidos. Só então saberá quem é quem, quem sou eu e quem é você.
BÍBLIA, FONTE DE SABEDORIA E DE APARENTE CONTRADIÇÃO
Hoje, existem espalhados pelo mundo milhões de livretos de pensamentos célebres, todos entre tarjas brilhantes, destacados com letras de forma, enaltecendo o autor da brilhante descoberta. Ficamos maravilhados com tais celebridades, cujo único esforço talvez tenha sido o estudo acurado da Bíblia.
Para qualquer pessoa que se dê o esforço de uma leitura atenciosa do Sagrado Livro de Deus, perceberá, sem sombra de dúvidas, que ali se encontra resumida toda sabedoria moral e filosófica do mundo. Alguns exemplos de estrita semelhança:
Sólon: Não se diga que alguém é feliz antes que morra.
Bíblia: Por isso os ímpios não ressurgirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.
Sófocles: O homem ri e chora conforme Deus dispõe.
Bíblia: Vede que só eu sou Deus e que não há outro fora de mim. Eu matarei e farei viver; ferirei e curarei, e não há quem possa tirar de minha mão cousa alguma.
Pitágoras: É difícil percorrer ao mesmo tempo vários caminhos de vida.
Bíblia: Todo reino dividido contra si mesmo, será desolado.
Epiteto: Lembra que és apenas ator numa peça na qual o diretor determina seu papel.
Bíblia: Quem formou o mudo e o surdo, o que vê e o que é cego? Não fui eu?
Eurípedes: O caráter do homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver.
Bíblia: Com o santo, serás santo, e com o robusto, perfeito. Com o puro serás puro e com o perverso, far-te-ás perverso.
Demócrito: A felicidade não reside nas riquezas materiais, mas na alma.
Bíblia: Por que de que aproveita o homem ganhar todo o mundo se vier perder a sua alma?
Gandhi: Todas as minhas experiências provaram que não existe outro Deus, a não ser a verdade.
Bíblia: Eu sou o caminho, A VERDADE e a vida.
Luciano: A vida do homem simples é a melhor e a mais racional; portanto acaba com esta tolice de sondar os céus, de pesquisar motivos e fins.
Bíblia: Não procures saber coisas mais difíceis do que as que cabem na tua capacidade, e não especules as que são sobre as tuas forças intelectuais; mas cuida sempre naquelas em que Deus te mandou cuidar, e em muitas das suas obras não sejas curioso, porque não te é necessário ver com os olhos o que está escondido. Não te apliques com muita atenção em cousas escusadas, e não examines com curiosidade as diversas obras de Deus; porque muitas cousas em grande número te têm sido patenteadas que excedem o entendimento dos homens.
Não resta dúvidas que se continuássemos pesquisando iríamos encontrar toda sabedoria de Deus parafraseada. Isto não quer dizer que muitos não digam ou já disseram, por si próprios, verdades que tocam o coração. O que afirmo é que, apesar deles terem descoberto sozinhos tais pensamentos, eles já existiam na Bíblia há milhares de anos.
Mas, esta mesma Bíblia tão sábia e citada, nem sempre nos parece coerente. Com liberdade a múltiplas interpretações, ela consegue confundir, deixando os homens perdidos quanto ao discernimento do que seja mais correto e verdadeiro. Até hoje, não consegui atinar qual a intenção do Criador ao inspirar verdades, a nós, tão ambíguas. Com suas parábolas, Jesus conseguiu provar aos homens que Deus e a própria vida existem, exatamente, para não serem entendidos plenamente por todos.
Para os que imaginam que Deus enviou seu filho Jesus para salvar a humanidade, esclarecer dúvidas, vencer o mal e fazer reinar a paz e a felicidade entre os homens, certamente concluirão que Ele só conseguiu em parte o Seu intento.
A Bíblia nos diz que Jesus é Deus. Ninguém duvida da onipresença e onisciência de Deus, logo, Jesus deveria, como Deus, saber de todas as coisas, inclusive das futuras. No entanto, perguntado sobre os fins dos tempos, Ele afirmou: "A respeito porém deste dia ou desta hora, ninguém sabe quando há de ser, nem os anjos no céu, nem o Filho, mas só o Pai."
Desconhecendo-se de que Deus, quando se fez homem, fê-lo plenamente, ficará difícil admitir que Jesus tenha sido nosso Deus descido dos céus. São em pontos assim que a Bíblia confunde sobremaneira. Há sempre algo mais a ser considerado, algo mais profundo, algo mais que transcende o alcance de nossa inteligência.
Jesus Deus, ou somente Filho de Deus, é um questionamento antigo, sobre o qual já tantos ascetas e teólogos tentaram, inutilmente, chegar a uma conclusão. Na verdade, Jesus Deus ou Jesus Filho de Deus, não afeta senão nossa plena ignorância.
O livro de Deus tem ainda muitas outras, digamos, contradições. Isto certamente é coisa humana, mas perturba muito aqueles que se baseiam, letra por letra, no livro inspirado. Percebe-se, por exemplo, que três dos quatro apóstolos afirmam que todos os dois ladrões crucificados com Ele, diziam impropérios. Um porém atesta que um se arrependeu e que Jesus respondeu-lhe: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso."
Werner Keller aponta fatos como estes: "Ora afirma que o homem foi criado em último lugar, ora em primeiro. O nome do sogro de Moisés é dado como Jetro, Raquel e Hobab." Estas e muitas outras coisas, não se sabe se por excesso de liberdade de tradução, ou simplesmente por interpretações equivocadas, deixam o livro santo, às vezes, em situação desagradável.
É inegável a existência de fatos, a nós, contraditórios:
"Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância" ou "Ai do mundo por causa dos escândalos; por que é preciso que sucedam os escândalos, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo." ou ainda: "Para que vendo vejam, e não vejam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não suceda que alguma vez se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados."
Em Mateus, cap. 19, Jesus ensina que aquele que deixar em seu nome, a sua casa, o pai, a mulher, os irmãos..., receberá cento por um e possuirá a vida eterna, mas conclui: "Porém muitos primeiros virão a ser os últimos, e muitos últimos virão a ser os primeiros."
Em Marcos, 14.7 "Porque vos sempre tendes convosco os pobres, para que quando lhe queirais fazer o bem lho possais fazer " Há ainda indicações de guerras, aberrações de todo tipo e sofrimentos indizíveis, em que Jesus afirma que "assim é necessário que aconteça".
Para que tudo isto se faça, há de ter um triste protagonista, um homem sempre em desajuste com o fim supremo de proporcionar a igualdade e justiça: normas supremas de um Deus perfeito. Diante da nossa falta de discernimento do que é certo ou errado, do que se deve levar em consideração ou não, daquilo que está escrito ao pé da letra ou daquilo que deve apenas ser subentendido, ficamos muito desorientados.
São muitas citações com evasivas, numa afirmativa, a mim clara, de que também Deus, no Seu relacionamento íntimo e particular com o homem, apresenta exceção aos mandamentos. É coisa raríssima Deus optar por castigos, provações... (afinal Ele é amor e bondade), mas não acho isto totalmente incabível. Faz parte (humanamente falando) da exceção que prova a regra.
Essas coisas, certas ou erradas, justificam a existência de muitas religiões, seitas e todo tipo de crença existente no mundo. Mesmo pelo bom senso, qualquer um pode entender que Deus existe; e que este Deus é bom e justo e fez tudo perfeito; e que este Deus gosta da gente e por isto nos enviou seu próprio Filho para que não nos extraviássem do caminho de chegar até Ele.
As lutas pela hegemonia da verdade religiosa é danosa, pois demonstra falta de pobreza de espírito, já que o Deus de todos ensina o bem, a compreensão, a caridade, a partilha honesta dos bens terrenos, a misericórdia, o perdão, a humildade... "Quem não é contra mim, é comigo."
Por causa das interpretações, das ideologias e do fanatismo, muitas pessoas, nos terreiros, nas mesquitas, nas igrejas, nos templos... digladiam-se em nome de Deus, como se Ele, Senhor da Paz e do Amor, se prestasse a tais ensinamentos de revolta e violência. Por mais que se erre, não há limite de perdão, nem "setenta vezes sete".
Há verdades que as religiões, por teimosia, orgulho ou interesse, negam-se a aceitar. O celibato dos padres católicos; o escrúpulo do vinho dos protestantes; a dura cerviz dos judeus que ainda continuam esperando o Messias... todos continuam escravos de ideologias, como se fossem políticos cegos em defesa do poder, da hegemonia e do enriquecimento.
"Eis aqui está posto este menino para ruína e para salvação de muitos em Israel e pra ser o alvo a que atire a contradição." Deus sabia disto, mesmo assim deliberou como necessário.
É muito difícil saber o porquê de Deus permitir que achemos as coisas tão confusas. Quem ler o Apocalipse e tentar explicá-lo, certamente dirá tantas asneiras, quanto diria um matuto ao equacionar uma viagem à lua. Por que será que Deus não falou claramente a todos, se como onisciente sabia que isto iria acarretar tantas discussões e confusões? Dirá alguém: "É porque Ele quer fé e não comprovação."
"Não é o discípulo maior que o mestre". É, parece que o mal está em querermos saber tudo. Deus permite que andemos quebrando a cabeça inutilmente, mas não nos ensina nem nos incita a isto.
As coisas do espírito ninguém conseguirá explicar plenamente. Muitos, desde os tempos de Maimônides e Ezras até os nossos dias, têm tentado, inutilmente, explicar ou tirar estas dúvidas. Estes mistérios só conseguem ser arrefecidos ou diminuídos, no coração das pessoas simples e humildes. Se perguntarmos a estas pessoas quem é Deus, onde está, o que faz e por que fez o mundo e as pessoas assim, certamente receberemos uma resposta muito mais convincente.
Contudo,se procuramos tal definição num teólogo emproado, iremos então nos deparar com tantos adjetivos arcaicos, tantas explicações rebuscadas, tantas perguntas em lugar das respostas que, no fim, até mesmo o mais ferrenho fiel passará a duvidar. Não terá sido por menos que Jesus desabafou: "Graças te dou Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas causas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, parque assim foi do teu agrado."
Perguntamo-nos então: É mau estudar a Bíblia e as coisas de Deus? Certamente que não, caso contrário ela não existiria como fruto de inspiração divina. O ruim é estudá-la interesseiramente, só com o intuito de cultura, só examinando trechos que possam justificar nossos caprichos.
A Bíblia é a palavra de Deus (talvez não integralmente chegada a nós), mas é a palavra de Deus. Ao lê-la devemos fazê-lo com humildade, em espírito de oração. Se não se entender alguma coisa, pouco mal, pois no fundo estamos certos, certíssimos, de que Deus quer o nosso bem, a nossa salvação e a nossa felicidade eterna. O resto é balela. Para quer perder tempo pensando em como ir às estrelas, se jamais iremos conseguir?
Não se pode esquecer também que a Bíblia é dividida em dois testamentos. Um, o Velho, contendo as leis adaptadas aquele tempo e preparando a vinda do Filho de Deus; o outro, o Novo, inteiramente perfeito com as diretrizes de nosso Criador, ajustado para até o fim dos tempos, enquanto durar a terra e os homens sobre ela. Até a vinda de Jesus, muitos eram os caminhos; agora, só Ele é o caminho para se alcançar a salvação.
Deus sempre quis da gente, fé, muita fé. Ela, sozinha, pode tudo. A descrença impede até Deus de fazer milagres:"‘Mas Jesus lhes dizia: Um profeta só deixa de ser na sua pátria, e na sua casa e entre seus parentes. E não podia fazer ali milagre algum, senão que curou alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos."
Aí está a força da fé. Não terá sido por maior reforço, a máxima oriental: "Para quem acredita, até uma cabeça de peixe faz milagres".
Além de Deus, cada ser humano tem dentro de si uma força tamanha capaz de torná-lo um gênio, um herói, um super-homem, um deus em potencial. Esta força intrínseca, a fé, porém, precisa de apoio e de incentivo. É como uma porção de césio protegida em seu aparelho: extremamente potente para o bem ou para o mal, mas jamais causará qualquer beneficio ou dano, se não for acionada ou exposta.
A Bíblia é resquício, retalhos, toques da sabedoria e pretensão de Deus. Depois de tantos processos por que passou para chegar a constituir o livro que hoje é distribuído no mundo, certamente ela recebeu inserções errôneas ou humanas. Explicá-la é como um robô mecânico explicar o seu inventor.
Para ser sincero, o que me intriga mesmo é a interferência de Deus ou não, em nossas vidas. Muitos afirmam que fulano é santo, bom, honesto, justo... porque está com Deus ou vice-versa. Noto, porém, com muita estranheza, que muita gente que nunca pronunciou com respeito o nome do Criador, leva uma vida sóbria e honrada. Há pessoas que não professam religião alguma e no entanto têm uma retidão de vida invejável. A recíproca é verdadeira.
Afinal, somos bons ou maus pela presença ou falta de Deus, ou nascemos bons ou maus por coincidência? Deus interfere ou não? Tudo indica que Ele respeita inteiramente nossa liberdade, mas se assim é, humanamente falando, onde fica a justiça? Afinal, não parece justo que alguém nasça (sem opção de deixar de nascer) e que, afinal, tenha sobre si uma carga negativa de gênio, que segundo se acredita, fá-lo-á sofrer eternamente.
Na verdade, continuo acreditando que nenhum homem responderá por aquilo que veio nele. Responderá sim, pelo aumento ou diminuição dos talentos que recebeu. Por isso, nem todo santo terá tanta glória, nem todo criminoso, tanto castigo. Deus sabe com quanto agraciou cada um de nós. É preciso acreditar nisto para saber se, realmente, a pessoa (diante do julgamento de Deus) tem ou não merecimento.
Conformemo-nos com o que somos: pobre, rico, aleijado, inteligente, ignorante, homem, mulher, sábio, simples, alto, preto, gordo, intempestivo, calmo, ordinário..., não importa. Estas forças indomáveis que existem dentro de cada um, vieram por si (é o pedaço de terra que o "Senhor da messe") nos deu para trabalhar. O importante, o que conta é a nossa luta para melhorar esta terra. Só isto importa; por este esforço seremos julgados. Por isto não estranhem se encontrar, do outro lado, diabos no céu e santos no inferno. É, não estranhem!
Só Deus e o homem em questão sabem dos motivos que levam alguém a delinqüir. Todo mal existe pela desobediência dos homens aos planos e ensinamentos de Deus. Pelas aberrações dos homens, nasce toda miséria do mundo. Se não transgredíssemos as leis de Deus, a terra seria um paraíso. É pois, de Deus, a culpa de o mundo estar como está ou antes é nossa, só nossa?
COMO SER MAIS FELIZ
- Que tarde linda! Parece uma comemoração aos nossos quinze anos de convivência.
- Quinze anos! Puxa, como o tempo passa!
- Não só o tempo, mas também as coisas boas da vida. Lembro do nosso tempo de namoro, de noivado..., os primeiros meses de casados. Você era tão carinhoso!
- E difícil transformar 15 anos em alguns meses, você há de entender.
- Não se é preciso ser um David Coperfield para realizar tal mágica. Apenas um pouquinho mais de compreensão e sensibilidade.
- Mudei tanto assim?
- Como mudou! Passa os dias se preocupando apenas com seus sonhos, jamais se importando com os meus.
- Refere-se a sexo?
- Não propriamente.
- Mas, refere-se?
- É, antigamente...
- Antigamente eu tinha muitas outras ilusões. Hoje não as tenho tanto. Tem de admitir que há um tempo para tudo. Hoje não rodo pião nem jogo bolinha de gude na rua - seria ridículo.
- Nem procura outras meninas?
- Isto vai longe. E passado, coisas da mocidade infrene.
- Você era um canalha, lembra-se?
- No entanto achava-me melhor.
- Uma ova!
- Acabou de afirmar nas entrelinhas, que mudei para pior.
- Minha vida não tem mais sentido. Não realizei nada do que sonhava.
- Isto é passado. O próprio tempo imprime certas modificações, não só no ser humano como até nas estrelas. Penso que estou sendo mais comedido e que, se mudei, foi para melhor.
- Qual nada, você destruiu minha vida. Não consigo esquecer o que você me fez. Lembra-se daquele dia em que...
- Mas isto passou. Hoje estamos aqui, 15 anos de casados, diante de uma tarde maravilhosa, com todo um cenário lindo à nossa disposição.
- Que se dane a tarde linda pelo que você já me fez.
- Mas,...
Lágrimas, silêncio..., fim de mais uma tarde que podia ser feliz.
O homem que não cuida bem do presente, não tem futuro: vive se livrando do passado. Embora isto seja mais transparente que o ar puro que respiramos, nem sempre enxergamos. Nascendo numa época prenhe de normas morais ultrapassadas, o homem moderno vê prejudicado seu equilíbrio emocional e a sua felicidade. Não que tenha culpa total de ser tão mesquinho e vulnerável, pois é difícil a alguém atravessar um pântano sem sujar as botas de lama. Estamos num pântano.
O homem de agora, vendo-se jogado num mundo com suas normas e diretrizes preestabelecidas, com engodos de todos os tipos à sã doutrina da moral, ouvindo os mesmos credos, percebendo as constantes manobras e manipulações do poder, não encontra mais a força intrínseca de Deus para erguer sua voz contra a imoralidade, as injustiças e os desrespeitos. Prefere aceitar o jogo e viver, aparentemente, em paz. "Tem vergonha de ser honesto".
Mas, não há paz verdadeira sem Deus. O tempo vai passando, os erros se acumulando, as angústias crescendo, somando-se, fermentando, preparando o homem sem futuro, ocupado apenas em remendar o passado.
Todos nós, em geral, estamos neste barco. Cometemos tantos desatinos, fizemos tantas coisas erradas, que somente o esquecimento do passado poderá oferecer-nos um presente com perspectivas melhores para o futuro. Quem de nós não vive numa comunidade? É o mundo, o país, o estado, o município, a vilinha, a família... Partindo-se do princípio da relação homem/sociedade, todo o mal que fizermos é eterno, enquanto o mundo for mundo. Qualquer coisa enquanto existe é eterna. Se é eterna, tende à perfeição, pois nada que pereça é perfeito.
Não acredito que haja, enquanto houver vida sobre a terra, nada mais imperfeito na criação de Deus, do que o homem enquanto vivente aqui neste mundo. Por isso morre. Ele próprio (Deus), segundo a Bíblia (com reservas de interpretação), andou meio atordoado com sua obra: "Ora, a terra estava corrompida diante de Deus e estava cheia de iniqüidades" - Gêneses, 6.11; "Arre- pendeu-se de ter criado o homem na terra" -Gênesis, 6.6.
Tudo isto estava previsto, porém, não com tanta intensidade. A inclinação do homem ao mal extrapolou os planos de Deus. "Quem formou o mudo, o surdo, o que vê e o que é cego? Não fui Eu?" - Êxodo, 4.11; "Porque o sentido e o pensamento do coração do homem são inclinados para o mal desde sua mocidade, não tornarei a ferir vivente algum como fiz..., enquanto a terra durar" - Gênesis, 8.21.
Faço apenas estas citações para dizer que Deus, quando fez o homem (não importando aqui se por meio do barro ou da evolução), sabia que hoje estaríamos aqui, sujeitos a muitos tipos de balbúrdias e injustiças, porém, o que Ele talvez não tenha previsto é que iríamos ser tão criativos na forma de perverter o bem.
O fato é que aqui estamos, vendo irmão matando irmão; país espoliando países..., numa corrente contínua de desajustes e injustiças sociais intermináveis. Dentro deste mundo, como viver melhor e diminuir tanta angústia?
Se já erramos tanto e se tudo o que fazemos é eterno enquanto durar a vida, a única saída menos dolorosa é criar, como o pequeno príncipe de Exupéry, o nosso pequeno mundo. Todos nós temos nosso asteróide, nosso pequeno mundo. Ora somos filhos, ora amigos, ora pais...
Todos temos, também, nosso passado negro e triste. Se quisermos viver melhor, devemos não mencionar esse passado e jamais lembrá-lo a quem estiver ao nosso lado. Para quem cometeu desatinos, basta a triste companhia de tais lembranças. Despojemo-nos do sadismo maléfico de tais reminiscências, ajudando a quem não teve passado virtuoso a, pelo menos, sonhar no presente com um futuro melhor.
Quantas e quantas vezes destruímos, impiedosamente, a alegria do presente com o toque malicioso do passado? Quantas vezes fizemos apagar nos lábios do nosso irmão, o sorriso de satisfação, desenterrando em sua frente uma triste lembrança sepultada?
Passado é passado, é zero à esquerda, é apêndice desnecessário: faz parte do relacionamento íntimo entre Deus e o homem e, como tal, deve ser respeitado.
Que você, amigo, que por acaso está correndo os olhos em cima destas considerações, jamais desenterre o passado triste de seu irmão. Se o fizer, saiba da extensão de sua maldade. Esqueça as coisas tristes que passaram.
Não tenha nos lábios só críticas destrutivas. Observe no seu irmão, os atos bons dele, as suas façanhas, aquilo que tem de melhor. Por que só criticar, apontar erros e falhas? Se lhe custa tanto mencionar o lado bom de seu irmão, ao menos fique calado.
É a inveja a mãe da vingança, e esta, o caminho da crítica destrutiva. Não inveje o bem sucedido porque a felicidade dele em nada o prejudica. Contrariamente, uma pessoa azeda poderá acabar com qualquer entusiasmo, com a alegria de qualquer um. Sem as lágrimas não seria reconhecido o sorriso. Mas o sorriso é melhor do que as lágrimas. Se pode fazer alguém sorrir, por que fazê-lo entristecer e chorar?
Se houver necessidade de apontar um erro, saiba fazê-lo. Qualquer um entende quando nos recriminam por amor, inveja ou vingança. Por isto as crianças não guardam rancores dos pais; por isto tantos homens se odeiam e se matam.
Se hoje não pode mais rodar pião, ontem foi possível; se não consegue hoje correr atrás de uma bola, ontem pôde. Há um tempo pra tudo. Não se rebele contra a determinação de quem o criou.
Não transfira o mal que plantaram em você. Com o seu sofrimento estará quitando os pecados de seus ancestrais; as gerações futuras pagarão os seus.
A sociedade cria e tenta modelar o homem; a inteligência do homem pode aceitar ou não. Por isso, saibamos compreender nossos semelhantes, pois não será outra a medida que Deus usará para para aceitar ou não nossas justificativas. Se quer ser feliz, faça a felicidade dos outros, pois não há nada que faça e que não volte a você.
Se criticar destrutivamente o irmão, ele ficará abatido e passará a tristeza adiante, porque ninguém transfere a outrem aquilo que não tem. Que esperar de uma pessoa zangada, triste e ferida? Que esperar de uma pessoa de bem com o mundo, alegre e de mente sadia?
Faça agora, amigo, sua escolha. Nunca é tarde para ser feliz o quanto possível. É de tostão em tostão que se fazem os milhões; é aproveitando os momentos, aparentemente insignificantes, que poderemos construir um monumento de felicidade. Experimente.
SEM DEUS NADA E POSSÍVEL
Até hoje se condena a miscigenação religião-política, alegando-se que uma coisa nada tem a haver com a outra. A política, representada por centenas de ideologias, pensa não precisar da parte íntima e moral do homem para sua sustentação; a religião, hasteada na moral, honestidade e no desprendimento, assegura, nestas virtudes, o sucesso de qualquer ideologia, mesmo sem pretensão política. O homem que acredita em Deus e nas sãs virtudes, procura ser bom e justo, simplesmente porque quer ser bom e justo. Os que não acreditam, dizem acreditar para ludibriar o povo e conseguir seus intentos.
Pode passear pelos sistemas que até hoje mais se aproximam da justiça que, mesmo assim, jamais conseguirá a tão sonhada harmonia, o tão almejado equilíbrio, a tão esperada justiça social plena.
Nenhum sistema ou ninguém conseguirá a perfeição social, senão colocando as leis humanas sob a égide da lei divina. Afinal, existe ou não um Deus criador de tudo isto? Um Deus que espera que respeitemos nossos irmãos e toda natureza? Responda a você mesmo: existe ou não?
Que sistema haverá de se impor contra a liberdade do homem inclinado ao mal? Se ele não quiser, certamente não fará, pois em respeito à liberdade, até Deus desiste ante a renitência do ser humano. Deus prometeu; Deus cumpre o que promete.
Todo homem e um jogador por excelência, um apostador inveterado, um "bicho" diferente que só joga com a intenção de ganhar. Por isso, quando ele acreditar que, dividindo, doando-se, amando o outro como a si próprio, conseguirá felicidade e paz nesta terra e alegria eterna na outra, então não precisará mais de leis nem ideologias, pois, por si mesmo, fará o bem e criará a igualdade sonhada. Fora disto, apaguem-se as idéias e as filosofias. Sem Deus não há filosofia nem verdades que vinguem.
O mundo terá - como bem frisou Hermógenes - de revisar suas normas de moral, de psicologia, de educação... que até hoje não conseguiram melhorar o mundo em nada, porque se afastaram da verdade indicada por Deus.
O mundo só tem um caminho: Jesus Cristo. Ele é o ecologista, o mestre, o presidente..., o líder do mundo, e não há e jamais haverá outro cujos ensinamentos e leis O superem. Vejam como é falho na prática, o Socialismo, o Imperialismo... e toda gama de artifícios ideológicos criado pelo homem. A razão é clara: egoísmo, ganância, idéia fixa de supremacia, em suma, falta de Deus. Você que parece feliz da vida por suas riquezas conseguidas sem justiça social, que se acha um vencedor por dirigir uma grande potência enriquecida pela exploração dos países subdesenvolvidos..., você que segue o que o mundo ensinou até hoje, experimente o outro lado da moeda e depois examine a diferença que existe entre o que entende por felicidade e paz do que realmente é felicidade e paz.
Ser feliz não é olhar palácios, mansões, somas bancárias exorbitantes..., mas sim sentir no coração a paz de ser um homem honesto e desprendido, um homem que está certo de que daqui não levará nada, a não ser o resultado decorrente das boas ações.
Jamais desminta o que está se dizendo, sem antes comprovar. Como poderá dizer alguém que tal fruta não presta se não a experimentou?
Certa, vez - conta-nos uma história - um fazendeiro branco voltou radiante de alegria por ter comprado ao índio, todas as suas terras, por um valor bem razoável; e também da felicidade do índio por ter conseguido vender ao branco, algo que ele jamais poderia possuir. O índio estava certo que aquelas terras ficariam ali até o fim dos tempos, e lamentou não possuir mais para negociar com o homem branco.
Se você anda direito e está em paz, não tem medo de nada nem de ninguém, nem da morte sequer. Está certo que nada de ruim poderá lhe acontecer, pois está do lado do mais forte. A morte, que para tantos é um acontecimento trágico e temido, para o justo não significa, senão, o início de uma nova vida completa de paz e felicidade.
Se está em dúvida quanto a existência de Deus e da vida após a morte, você crê. Todo aquele que duvida, acredita um pouco, pois quem tem certeza, não carrega interrogações. Diante disto, não arrisque: ande direito, largue o mal, siga as pegadas de Jesus. Se quando fechar os olhos, tudo se findar, você ainda foi um sensato, pois além de não ter arriscado, ainda foi mais feliz e seguro do que qualquer outro homem que viveu da inveja, da perseguição e do egoísmo, logo, em constante angústia e medo.
Não há um só homem no mundo que, praticando coisas erradas, tenha paz e sossego. Vive sempre com receio do minuto seguinte, da polícia, daquele a quem espoliou ou prejudicou, dos filhos e amigos dele, da vingança e, finalmente, de Deus.
Qualquer ideologia política sem Deus será sempre uma simples ideologia política, como tantas que até hoje tentaram, inutilmente, resolver os problemas sociais da humanidade.
Se acha que não acreditando em Deus Ele deixa de existir, está enganado. Como gravou Jung na entrada de seu consultório: "Vaca tus atque non vaca tus, Deus aderit" - ou seja: "Quer seja chamado ou não, Deus estará presente".
Se vive como incrédulo e infiel, pense nestas coisas. Lembre-se de Deus todos os dias e tudo será diferente. Não custa fazer esta experiência. Se fizer direito, com fé, persistência e humildade, e não funcionar, aí, volte a ser o que era.
PODER POLÍTICO INSTITUCIONAL
BRASIL - 1988
Todos sabem, ao longo de meus trabalhos, da aversão exposta aos maus políticos. Há até quem possa imaginar que sou contra a política, o que seria uma aberração, pois como já se disse, "o homem é um animal político" e não há nada, ou pelo menos, muito pouco do que se faz, que não traga no bojo a marca registrada de um ato político.
Entre as ciências sociais, a política talvez seja a mais difícil de ser justa, perfeita e coerente. Não foi por menos que grandes sábios, filósofos e escritores da antigüidade, embora imbuídos do desejo de acertar, sempre apresentaram doutrinas políticas antagônicas como forma de atingir o desenvolvimento, o progresso e o bem-estar social de seu povo.
Platão queria cidadãos melhores e mais felizes, governados por sábios que fossem defendidos por guerreiros e sustentados pelo proletariado.
Aristóteles lutou pela defesa da propriedade privada, aceitou até certo ponto a escravidão e sonhou com uma numerosa classe média. Os pobres não teriam direito a cargos políticos.
Maquiavel acreditava no uso da força, no poder absolutista, ainda que fosse conseguido através de atos imorais e de corrupção. E um dó que tenha escolhido o Brasil para implantar suas idéias.
Tomás Morus sonhou com uma democracia que assegurasse a igualdade de direitos a todos os cidadãos. Apenas sonhou.
Tomás Hobbes confiava na monarquia absoluta, com o estado regulando, dividindo e impedindo a violência e as injustiças sociais.
Montesquieu criou a divisão dos poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário.
Rousseau escreveu a democracia do povo - apenas escreveu.
Marx praticamente implantou o comunismo científico, com o enaltecimento do proletariado.
E assim, desde os primórdios, sábios e sonhadores buscaram em vão um sistema que imaginavam capaz de implantar a ordem, a harmonia, o crescimento, a paz e a justiça entre as nações. Mais adiante, grandes nomes tentaram decantar de tais idéias um ecletismo salvador, baseado na alquimia de transformar as mentes gananciosas, em homens prontos a defenderem e a lutar pela Pátria. Devaneio.
Jamais se conseguirá consenso entre a ganância e o desapego; entre o egoísmo e a partilha justa; entre a corrupção e a honestidade; entre os desmandos e a justiça; entre a Política e a politicagem.
A política a que irei me referir, então, é esta conjuntura deteriorada pela corrupção, cujo único objetivo é estar no poder, não importando qual seja a corrente partidária que irá levar seus séqüitos a isto. São pessoas oportunistas, que vivem em cima do muro, sempre prontas a saltarem para o lado das conveniências, ainda que estas representem o desgoverno, a miséria do povo, as injustiças sociais e o caos financeiro da nação. Aos políticos desta política, meu desabafo e minha oração.
"Confessai pois, ó vós que não sabeis governar senão arrebatando aos cidadãos a subsistência e as comodidades da vida! Confessai que sois indignos e incapazes de dirigir homens livres! Ou então corrigi vossa ignorância, vosso orgulho, vossa incapacidade e vossa preguiça: é isto que excita o ódio e o desprezo pelo governo..., cessem de criar suplícios contra os infelizes que uma legislação absurda e bárbara impele ao crime e a morte."
"O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens..., levantou no mundo, as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passos de ganso para a miséria e os morticínios. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido... Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Não sois máquinas! Homens é que sois! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os desumanos. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam. Não cumprirão o que prometem. Jamais cumprirão!"
Deponham as armas da ganância, velhos estúpidos, homens doentes, psicopatas do poder e do pretenso prestígio, e se enclausurem num mosteiro, num canto qualquer, onde possam parar e meditar, perceber a extensão maquiavélica de suas falcatruas para não entregarem o poder.
Só nos retiros, no silêncio, na quietude tumular da alma, poderão ouvir a voz doce e tênue da sensatez e dos valores reais e supremos. Pensem na miséria que a ganância, o egoísmo, a pusilanimidade e o poder atraem a tantos milhões de irmãos. Despojem-se da empáfia, da ostentação; desçam de seus pedestais e caminhem pelas calçadas; sintam a profundidade da miséria que a irresponsabilidade de vocês impõe.
Penetrem nos cortiços, nas palafitas, nos guetos imundos, sem água nem luz; nas mansardas ribeirinhas, nas f aveIas, nas prisões, nos hospitais públicos e tentem entender as desgraças impostas pelo egoísmo e pela incapacidade de governar.
Deixem de iludir o povo com estas leis econômicas. Não são elas que não funcionam, mas sim a preguiça e a desonestidade daqueles que são eleitos e pagos, regiamente, para velar com dignidade pelos direitos humanos de seus cidadãos. Olhem as crianças famélicas, criaturinhas indefesas, esquálidos troféus da ganância, da corrupção e do egoísmo que existe em vocês.
Desçam, abdiquem das imposições políticas e convivam um mês, uma semana... é, uma semana apenas, dependurados em redes esgarçadas, sem cobertores, sem emprego, sem comida. Olhem de perto uma criança que chora de fome, nua, picada de mosquitos, melequenta, anêmica... um trapo humano, um grito de justiça que sobe aos céus, aos palácios, às mansões e ronda a mesa farta, e penetra nos recônditos do coração empedernido, e clama a Deus por vingança.
Ó homens que comandam criaturas, cessem um momento, esta máquina terrível de humilhar, espezinhar, sugar até a última gota de sangue de seus irmãos Eles têm estômago e sentidos como vocês.
Pensem um minuto, verifiquem o que gastam à-toa, os salários que se auto-estabeleceram fora da realidade de nosso País, as mordomias, os processos escusos de verbas, as remessas de nosso dinheiro para os paraísos fiscais... comparem tudo isto com os fundos vazios de latas corrugadas, aos punhados minguados de farinha-puba, às taperas esburacadas...
Penetrem no fundo das minas, nas carvoeiras, nos esgotos, nas imundícias que a ostentação de vocês jogam os irmãos. Desanelem as peias que atam tantos pés; abram as algemas que tolhem o movimento de tantas mãos; retirem as imposições que cortam e calam as línguas que aspiram clamar por justiça.
O Brasil tem solução - vocês é que são incapazes de encontrá-la por causa, ora da corrupção, ora da incapacidade, ora da inoperância. Vivem se digladiando por ideologias partidárias, para se manterem no poder, perseguindo e sendo perseguidos nesta roda vida de Íxion que envolve o povo inocente.
Entrem nos lazaretos, nas prisões, nas pocilgas da pobreza extrema, nas frentes de trabalho do Nordeste, no hospital da Irmã Dulce, nas creches, em todos os antros sombrios onde a desgraça se encafua, e percebam, e se toquem, e acordem desta idéia fixa e doentia, desta inépcia repugnante que clama, que desafia, que irrompe contra o mais ínfimo e primordial dos direitos humanos: o de poder trabalhar, ter uma casa, uma família decente..., ser gente e não bicho.
Caminhem pelas ruas, pelos campos, pelas estradas de chão batido, pelas veredas; venham ver este outro mundo que lhes assegura o poder e a riqueza; o reverso desta efígie massacrada, que lhes torna farta, a mesa. Tudo o que excede às nossas necessidades, é tirado de alguém. Milhões de crianças não morreriam de fome, nem seriam arrastadas ao crime pela falta de amparo, emprego e educação, se vocês, políticos insaciáveis, não lhes subtraíssem a parte, se vocês cumprissem com seus deveres, se vocês não extorquissem tanto a própria Pátria, a terra que lhes viu nascer, acalentou e deu guarida.
Ah, patriotas de outra pátria, brasileiros de outro brasil! Respondam: qual o sacrifício que se impuseram até hoje em benefício do propalado "querido país?" Jamais congelaram ou diminuíram os próprios salários; jamais aceitaram estudar qualquer possibilidade de diminuir as mordomias, as aposentadorias extorsivas, enfim, qualquer projeto ou lei para diminuir o sofrimento do povo e equilibrasse as contas públicas. Desaprovaram a inafiançabilidade do crime político de corrupção; delegaram a si próprios, o poder de decidirem sobre seus próprios vencimentos. Não comparecem ao serviço e ninguém pode cortar-lhes os dias, dispensá-los, multá-los, enquanto qualquer outro trabalhador não tem o direito sequer de uma greve justa.
Lembrem-se - homens inescrupulosos - que a vida passa. Lembrem-se que Hitler também teve lampejos de falsa glória, mas hoje representa apenas uma mancha negra na história. Lancem um olhar e um exame retrospectivos aos milhões de homens que já trilharam o inglório caminho da ganância, do egoísmo, da imposição ideológica, do abuso de poder, da insinceridade, da perseguição política, das trampas, das negociatas escusas, do orgulho, da ostentação... e vejam as honras que a história lhes imputa. Permito-me e a vocês, maus políticos, esta pequena lembrança: "Mas ai de vós os que sois ricos; porque tendes a vossa consolação. Ai de vós os que estais fartos, porque vireis a ter fome. Ai de vós os que agora rides, porque gemereis e chorareis. Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam aos falsos profetas os pais deles."
Meditem um pouco sobre a ilusão de querer tanto, enquanto outros morrem de fome. Meçam a amplitude da rejeição do projeto que tornaria inafiançável o crime político de corrupção. Que vergonha! Que mais podemos esperar de nossos representantes, se se confessam, publicamente, ladrões?
Que esperar de nossa justiça (leis), quando se aponta o lugar, o nome, o desfalque, a data, o montante roubado pelos "ladrões de colarinho branco", e nada acontece? Que Deus tenha pena deste país e principalmente de seu povo sofrido, humilde, espezinhado e, principalmente, covarde.
Depois de tantos meses ouvindo os políticos da Constituinte lutarem ou não por aprovação de leis, simplesmente porque estas leis interessavam ou não ao PMDB, ao PFL, ao PT...; de tanto ver aprovarem no papel, os arrochos às demais classes sociais, com redução de benefícios, cortes de subsídios, dispensas, congelamento de salários etc. etc., enquanto eles, de si nada tiram, de nada se abstêm; de perceber este grupo faminto aprovando os próprios salários, a imunidade parlamentar; depois de não saber um terço do que de mal realmente faz esta casta insaciável, nociva e insaciável, só me resta erguer os olhos e dizer:
Obrigado Deus, por existir e ser senhor da justiça; por estar em algum lugar, ouvindo os lamentos deste povo escravizado e sofrido; obrigado pela promessa de que em um dia qualquer, a justiça triunfará e estes monstros que espoliam, amarfanham, massacram, sugam e extorquem o mais ínfimo direito de uma infeliz criatura humana, não ficarão Impunes.
Acordem políticos mesquinhos, cancros do país! Ouçam o lamento de crianças que choram de fome; de homens que definham à míngua, relegados à miséria; de seres que vegetam e imploram parcas migalhas de suas mesas fartas e extravagantes.
Amanhã estarão também sob a terra, apodrecerão, tornar-se-ão por fora, tão imundos quanto o são por dentro, voltarão ao nada de onde vieram, e diante do mausoléu dourado, não haverá um genuflexo que lhe comutará as penas; não haverá senão a triste epígrafe de um déspota na lápide fria e sem vida.
Vocês - e aqui falo de todos os políticos do mundo - são os principais, senão os únicos, culpados pela harmonia, paz e felicidade ou não deste planeta.
Cessem pois, ó psicopatas do poder, de fomentarem as injustiças, as guerras e todo mal que se arraiga entre os homens! Parem para pensar, meditem, acreditem: não vale a pena. E uma grande ilusão imaginarem-se senhores queridos, chefes respeitados, glória do país. Na verdade, não há ninguém mais detestado do que um político incapaz, perseguidor, corrupto e inoperante.
Não vale a pena, não, não vale! O Brasil tem solução - qualquer país tem solução, por pior crise que lhe aconteça. Vocês, ou não querem ou não conseguem encontrá-la. Deixem, pois, que outros tentem. Entreguem com humildade este perigoso poder, pois certamente, "melhor lhes será entrarem no céu com simplicidade e sem poder, do que irem para o inferno, cobertos de honrarias e glórias usurpadas".
Ah, se não houvesse políticos mesquinhos! Ah, se o dinheiro gasto com armamentos fosse aplicado na agricultura! Se no lugar da corrupção acontecesse a honestidade; da violência, a compreensão; de maus políticos, homens decentes, honrados e honestos, fiéis à linda vocação de cuidar dignamente de seus semelhantes! Ah, se isto fosse possível!
Seria Deus capaz de realizar tal utopia em cima desta terra que gira no espaço?
CONSELHOS E EXEMPLOS
As coisas do espírito quando tendem a cair, toda força vinda de conselho para impedir a queda, resultará em impulsão ainda maior de sua precipitação. O orgulho do homem, somente a força de Deus subjuga. Se desejamos retirar o pouco que resta de fé ao incrédulo, é só dar conselhos na hora errada. Não se deve jamais estimar tanto os "discursos de vida". Eles explanam as normas éticas cristãs, mas não comovem o homem a ponto de demover seus vícios.
A real força que pode impedir a derrocada das más inclinações do homem, chama-se exemplo. Ele é a comprovação inequívoca de que há alguém realmente convicto de que vale a pena ser bom e honesto, de que há alguém que, de fato, acredita no que diz.
As palavras, sustentáculo da oratória, conseguem ludibriar, tornar o belo, feio; aguerrida, a paz. Não é por menos que se deve mais temer uma mentira bem contada, do que uma verdade, aparentemente sem coerência. É por meio da manipulação bem feita das palavras, que a mentira se apresenta com roupagem de verdade.
Errará por certo quem imaginar uma pessoa por aquilo que prega. E muito difícil definir alguém pelo que escreve, canta, ensina ou anda dizendo. Contudo, é sumariamente impossível não se saber o que anda na cabeça da pessoa, depois de se examinar como age no dia-a-dia. São as ações que comprovam os pensamentos, as inclinações e a personalidade.
As palavras são como um jogo de dama ou xadrez. Quem souber mexer com elas melhor, certamente vencerá. O exemplo, não. Ele vem de dentro, do âmago, do fundo de nossa convicção. Parece derrotado pela vida, mas será o grande vitorioso no final.
As palavras são o ruge e o batom; os exemplos são a cara lavada pela manhã ao despertar. Por isso, no tribunal do júri de Deus, muitos cíceros, demóstenes e quintilianos cederão a tribuna a ingênuos camponeses.
Ah, fôssemos nós um sábio vírus, pousado na mente das pessoas! Um vírus que entendesse as tramas das palavras. Quanta farsa, quanta mentira, quanto jogo de interesse não descobriria ele! Imaginemo-nos Deus de nós mesmos. Imaginemo-nos nos negócios, ao telefone, nas tribunas, nas mesas de escritório, ao pé do ouvido... Quanta farsa, quanta mentira!
É, se fôssemos o Deus de nós mesmos, se conhecêssemos a nós mesmos, certamente baixaríamos a cabeça envergonhados diante de tanta mesquinhez. Felizmente, os amigos, os parentes, os conhecidos, aquelas pessoas, que de uma maneira ou de outra convivem com a gente, não são o tal vírus, nem o Deus da gente. É, felizmente não são!
MIL LIVROS DIRIAM TANTA VERDADE?
"E levantando ele os olhos para seus discípulos, dizia:
Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque vós sereis fartos. Bem-aventurados os que agora chorais, porque vós vos rireis. Bem-aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem, e quando vos separarem, e carregarem de injúrias, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem. Folgai naquele dia, e exultai; porque, olhai, grande é o vosso galardão no céu; porque desta maneira tratavam aos profetas os pais deles. Mas ai de vós os que sois ricos; porque tendes a vossa consolação. Ai de vós os que estais fartos, porque vireis a ter fome. Ai de vós os que agora rides, porque gemereis e chorareis. Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam aos falsos profetas os pais deles. Mas digo-vos a vós outros que me ouvis: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio. Dizei bem dos que dizem mal de vós, e orai pelos que vos caluniam. E ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa, não defendas levar também a túnica.
E dá a todo aquele que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lhe tornes a pedir. E o que quereis que vos façam a vós os homens, isso mesmo fazei vós a eles. E se vós amais aos que vos amam, que merecimento é o que vós tereis? Porque os pecadores também amam aos que os amam a eles. E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que merecimento é o que vós tereis? Porque isto mesmo fazem os pecadores. E se vós emprestardes àqueles de quem esperais receber, que merecimento é o que vós tereis? Porque também os pecadores emprestam uns aos outros, para que se lhes faça outro tanto. Amai pois a vossos inimigos; fazei bem e emprestai, sem daí esperardes nada; e tereis muito avultada recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, que faz bem aos mesmos que lhe são ingratos e maus. Sede pois misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai, e dar-se-vos-á; no seio vos meterão uma boa medida, e bem cheia, e bem calcada, e bem acugulada. Porque qual for a medida de que vós usardes para os outros, tal será a que se use para vós. E pôs-lhe também esta comparação: Pode acaso um cego guiar outro cego? Não é assim que um e outro cairão no barranco?
Não é o discípulo sobre o mestre; mas todo o discípulo será perfeito, se o for como seu mestre. E por que vês tu uma aresta no olho de teu irmão, e não reparas na trave que tens no teu olho? Ou como podes tu dizer a teu irmão: Deixa-me, irmão, tirar-te do teu olho uma aresta; quando tu não vês que tens no teu uma trave? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e depois verás para tirar a aresta do olho do teu irmão. Porque não é boa a árvore que dá maus frutos, nem má a árvore que dá bons frutos. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu fruto. Porque nem os homens colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos vindimam uvas. O homem bom do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau do mau tesouro tira o mal. Porque do que está cheio o coração, isso é que fala a boca. Mas por que me chamais vós: Senhor, Senhor: e não fazeis o que eu vos digo? Todo o que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as põe por obra, eu vos mostrarei a quem ele é semelhante. E semelhante a um homem que edifica uma casa, o qual cavou profundamente, e pós o fundamento sobre uma rocha; e quando veio uma enchente de águas, deu impetuosamente a inundação sobre aquela casa, e não pôde movê-la, porque estava fundada sobre rocha. Mas o que ouve, e não obra, é semelhante a um homem que fabrica a sua casa sobre terra levadiça, na qual bateu com violência a corrente do rio, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.
Se cada um de nós pensasse assim, haveria roubos, assaltos, assassinatos, egoísmo, ricos ou pobres, miséria ou luxúria e toda sorte de malquerença que assola o mundo? Logo, a solução do mundo é Jesus Cristo.
Quando todo homem dispensar alguns minutos de sua vida a este Homem, deixando de lado um pouquinho só, os livros de sua faculdade, de sua escola, de seu passatempo e ler um pedacinho por dia dos Evangelhos, certamente sentirá no coração uma satisfação ainda maior do que aquela que sente nos momentos de grande prazer.
Não discuta, experimente primeiro; não reaja nem difame o que não conhece direito; não diga que tem a verdade fora de Deus, sem antes ler a Bíblia. Aí está o conselho de quem não é diferente de você.
EL CORDOBÉS E A CHIFRES DE BAIONETA
"Junho de 1957. Fui com o Velhão (mano Adalho) e papai passar uns dias lá em Conceição da Barra, no Espírito Santo, na casa de um velho amigo, o Tércio. Numa noite fria, sem ter o que fazer, resolvemos assistir a uma tourada. O proprietário do circo era espanhol, um infeliz de Fuengirola que viera escondido no porão de um navio. No sangue todo ardor das touradas de Madri. O lugar do espetáculo era pequeno, sem qualquer proteção ou cobertura. O vento frio vindo da praia enregelava as faces e os braços desnudos. Um picadeiro central cercado de ripas grossas e arquibancadas de tábuas empenadas, completavam a armação. Por fora, uma proteção ameaçadora de arame farpado, avisava aos caloteiros que o risco não compensava.
Depois de meia-hora de atraso, já batendo o queixo de frio, eis que aparece em cima da cerca, um "locutor", avisando que a demora se devia à evasiva do titular El Cordobés, que ao saber do "curriculum vitae" da vaca, havia desaparecido misteriosamente. Em seu lugar apresentariam um "peone" da fazenda Spinosa, cabra da peste, destemido, criado no meio de gado bravio nas caatingas do nordeste. Era ele quem deveria subjugar a vaca com chifres de baioneta, temida, responsável por dezenas de demissões de peões que bambeavam as pernas só em ouvir falar o nome do terrível animal.
O voluntário suicida apresentou-se, não sem antes mascarar o picadeiro com uma cusparada esverdeada de saliva com fumo de corda de Arapiraca:
- Escuta aqui, ô distinta platéia, tô aqui pra modi pegá uns animar. Num tô custumado trabaiá na frente di gente, mais vô fazê o pussive pra agradá. Sorta aí a desgranhenta da fera que nois vai lutá - e dizendo isto saltou no meio do picadeiro. Nem do tradicional pano vermelho teve ele consciência. Um "arenero" lembrou-lhe do esquecimento. Ele retrucou:
- Não quero truqui, vai sê de homi pra homi mesmo.
Como o grande Alexandre, também ele não furtaria a vitória.
Extremamente precavidos, "os monosabios" foram abrir a jaula da fera. Mal destrancaram a porta, pularam nas ripas, subindo como lépidos macacos. A platéia excitada, explodiu, pois de orelha em orelha já se ventilava a cruel fama da vaca chifres de baioneta: "Matou três de uma só vez"; "Destripou o Zé da Onça"; "Conhece o manqueta? Foi ela;"...
Havia em cada mente a antevisão do que iria acontecer: a porta seria estraçalhada na arrancada, a poeira levantaria sufocante, dois olhos faiscantes dirigiriam, enfim, as baionetas afiadas até as entranhas do infeliz toureiro. Pelas narinas vermelhas sairia fumaça e entre mugidos tétricos, seriam exibidas as tripas do vaqueiro: mesquinho troféu de uma fera imbatível. Se ainda fosse o titular El Cordobés!... No íntimo, todos torciam pela vaca.
Diante da algaravia da platéia, a vaca saiu assustada, retrocedendo vagarosamente para o ponto do picadeiro, onde o barulho era menor. Nisto, como por encanto, fez-se silêncio tumular. Do meu lado, alguém que conhecia a vaca, ciciou:
- Está tomano distança, vai acabá com ele.
Neste momento, sem conhecer o vaqueiro, nem a vaca, nem o circo, nem a fazenda que mantinha a fera - juro - estremeci. Senti vontade de gritar, de tentar impedir tão impiedosa carnificina. Ainda hoje não me perdôo pela covardia do silêncio.
Passaram-se os centésimos de segundos, os segundos, os minutos e só não vieram as horas porque diante da impaciência da platéia, os "cuadrilleros", primeiramente tímidos, e depois na mais desdenhosa ousadia, começaram a fustigar a vaca para que enfrentasse o toureiro. Ela empacou.
Luta pra lá, luta pra cá, cutuca com a garrocha, torce-lhe o rabo, banha-se-lhe as ancas com capanema... Aos empurrões, mais arrastada do que voluntariamente, a vaca chega ao centro do picadeiro.
O toureiro se aproximou. O pequeno resquício de precaução, paulatinamente, foi cedendo lugar a ousado desrespeito. A vaca não reagia.
Meus olhos que até então só enxergavam pontiagudos chifres, ancas potentes, narinas dilatadas, agora não iam além de mais uma irresponsável importação brasileira de Biafra: desnutrida, esquelética, ossos traseiros parecendo-se com dois cabides de pendurar chapéus, bunda suja de uma diarréia crônica, cabisbaixa, envergonhada de seu estado deplorável, a vaca não encontrava lugar para esconder sua desdita.
O vaqueiro, ainda temeroso de um engodo para pegá-lo desprevenido, agia com certa precaução. Fez que avançava, chutou areia... nada. A vaca parecia apenas sonhar com uma moita de capim verde, lá na sua sossegada fazenda.
Ao perceber que com sua inépcia, a vaca o estava desmoralizando, o vaqueiro avançou decidido, esfregando-lhe, primeiramente, as mãos nas ventas, depois na bunda suja e, por fim, já sem o que mais inventar, deu a volta e arremessou-lhe violento pontapé no traseiro. Era o que faltava: vaca desmunhecou. Nos seus olhos, toda tristeza que, tantas vezes, a impotência impõe aos desvalidos.
O povo enraiveceu-se. Aos gritos exigia luta, sangue ou o dinheiro de volta. Diante dos ânimos exaltados, o dono do circo reapareceu pedindo paciência:
- Não me perturbem, vocês irão ter luta. Vou soltar agora o touro, já que mais uma vez percebemos que não se deve confiar em fêmeas. São imprevisíveis. Querem sangue, irão ter sangue. Não me culpem por isto.
Novamente o suspense, um silêncio que não durou muito. Para que o touro entrasse, era preciso que a vaca saísse. Quatro ou cinco "areneros" lutam incansavelmente para erguer aquela armadura de ossos. Nada. Estava arredia. Torcem-lhe, quebram-lhe o rabo, acendem fogo no traseiro, puxam-lhe as orelhas, fustigam-lhe com tudo o que encontraram de pontiagudo, enfim, não dispensaram item algum da maldosa criatividade humana no ato de impingir sofrimentos. Nada, nem um leve sinal de mudança de ânimo. Já desconfiando da maçada, alguém grita da platéia:
- Será que aqui não tem homi pra tirar esta mundiça daí não?
Entre os caboclos ou matutos não poderia haver desafio ou ofensa maior. Uma verdadeira avalancha de homens irrompeu no picadeiro e em menos de um minuto, a atriz intempestiva foi devolvida ao camarim.
Agora a coisa seria pra valer. Com os machos não acontecem estes vexames: garantia o apresentador.
Abre-se o pequeno curral. De lá sai um bezerro com projeto de chifres, todo doidão de medo pelo barulho das pessoas, estonteado pela luz que o enceguecia. O vaqueiro, cheio de moral (pois já havia desmoralizado a mais terrível vaca da região), pulou na frente, desafiando "o touro", atrevidamente. Cada vez mais assustado, procurando por todos os meios e lados um jeito de fugir, o bezerro acabou atropelando o pobre vaqueiro, que caiu nocauteado com uma joelhada na testa.
Os assistentes acorreram céleres, retirando o vaqueiro e levando-o à farmácia mais próxima. Sem se conformar, a platéia irascível exigia o dinheiro de volta. Eu, qual hiena imbecil, não podia conter-me. Senti alguma coisa morna descer pela perna, e não foi difícil deduzir que estava me mijando todo. Foi inevitável.
- Este abestalhado ri de quê? - perguntavam-se os inconformados.
No íntimo eu respondia:
- Vocês queriam sangue, mas eu, nada mais do que vi.
Não acreditarei jamais se alguém disser que assistiu a um espetáculo mais inacreditável."