anonymous
2008-10-27 12:36:17 UTC
De modos diferentes, em épocas diferentes, culturas diferentes têm tentado distorcer o Jesus simples dos evangelhos. Desde o Jesus dos evangelhos apócrifos passando pelo Jesus sem carne e osso, desprovido de matéria, dos gnósticos do primeiro século da era cristã e atualmente o Jesus místico da Nova Era, nada mais são que reações da cultura da época, que se recusa a aceitar o Homem de Nazaré, exatamente como ele é. Cada vez que o espírito de uma raça diferente entrou no espírito do evangelho, tentou manipular a figura daquele que é o Senhor dessa mesma história, algumas vezes a ponto de ela ficar deformada e irreconhecível.
Portanto, em nada nos espanta o fato de a invasão do liberalismo no Ocidente ter levado muitos a alterar novamente as características do Senhor. Para tanto, esses movimentos, encabeçados por acadêmicos descomprometidos com a fé cristã, buscou utilizar-se de hipóteses e documentos duvidosos sobre Jesus para tecer um amontoado de informações que, longe de acrescentar algo ao conhecimento dele, distorceu-o completamente.
O Dr. Otto Borchet, em seu livro O Jesus histórico, fez um excelente comentário sobre as muitas tentativas históricas de distorcer a imagem de Jesus, conforme ela nos é fidedignamente mostrada por Mateus, Marcos, Lucas e João, testemunhas oculares ou contemporâneas dele. "Indubitavelmente [...] cada geração que se aproxima da figura de Jesus novamente, tem tentado retificar essa imagem no que acha nela deficiente". A verdade, porém, é que qualquer tentativa de acrescentar algo ao Jesus bíblico falha.
Um outro livro que apresenta os principais estudos acadêmicos atuais dos críticos para tentar reconstruir o Jesus histórico foi publicado em 1998 por Mark Alan Powell. Powell, apresenta um apanhado sobre os vários retratos do "Jesus Histórico" apresentado pelos críticos através da história. Assim, R. Horsley que vê Jesus como um profeta, G. Vermes como um judeu carismático, Morton Smith como um mágico, B. F. Witherington como um sábio judeu e F. G. Downing como um filósofo cínico, são alguns que fazem coro com os críticos do "The Jesus Seminar", J.D.Crossan, M. Borg, E. P. Sanders, J. P. Meier e N. T. Wright.
Contudo urgi esclarecer que quando falamos em "Jesus histórico", estamos na verdade tratando de uma expressão não muito definida.
O que seria o Jesus histórico? É o mesmo Jesus da Bíblia? Caso seja, até que ponto? Trataremos disso logo abaixo.
O Jesus histórico versus o Jesus real
No entanto, devemos levar em consideração uma distinção muito significativa levantada pelo crítico John P. Meier, em seu livro "Um Judeu Marginal", qual seja: qual a diferença entre o Jesus histórico e o Jesus real? Existe de fato tal diferença?
Meier diz que o Jesus histórico não é o Jesus real. Ele explica que a noção de real é enganosa, pois existe varias gradações da noção de real. Não podemos nos referir à realidade total de uma pessoa em tudo que ela pensou, sentiu, experimentou, fez e disse. Mesmo com todos os documentos oficiais disponíveis não se poderia descobrir a realidade total de uma pessoa. O máximo que o historiador ou biógrafo poderia montar era um quadro "razoavelmente completo" da personagem.
Os relatos que os evangelhos apresentam de Jesus é justamente isso. Os quatro evangelistas se detêm somente nos três últimos anos de sua vida. Apenas dois deles: Mateus e Lucas falam sobre sua infância, mesmo assim de modo bem limitado. A maioria dos atos e palavras de Jesus, assim como os chamados anos obscuros de sua vida, ficaram vedados por um véu de mistério. O apóstolo João confirma esta verdade ao narrar em seu evangelho:
"muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem." (João 21.25)
Portanto o Jesus real mesmo com todos os registros disponíveis sobre ele foge à nossa verificação total. Mas não pense que Jesus é o único que enfrenta tal dificuldade, a problemática desta abordagem se estende a todos os outros personagens famosos da história como Sócrates, Platão, Augusto, Alexandre e outros. Mas longe está, disso ser um obstáculo à existência de Jesus. Não absolutamente. O que estamos tratando somente é sobre a diferença empírica que se impõe entre o Jesus real e o Jesus da história. As informações que subsistiram sobre Jesus, obviamente, nunca conseguirão refletir a totalidade de sua vida. Não obstante, podemos conhecer o "Jesus histórico".
O exegeta D.A Carson resume a questão com muita propriedade: "Portanto, o fato de que não é possível reconstruir uma vida detalhada de Jesus com base nos evangelhos sinóticos não põe de modo algum em dúvida os evangelhos como fontes históricas exatas. Devem ser julgados por aquilo que de fato nos dizem, não pelo que não nos dizem"
A busca pelo Jesus histórico
Muito embora tenhamos falado que o Jesus real não pode ser resgatado pela pesquisa histórica, no entanto, o Jesus histó