2007-03-31 20:33:51 UTC
O conflito entre católicos e protestantes na Irlanda vem de longe. Para entendê-lo, é preciso conhecer um pouco da história do país, marcado por inúmeras guerras desde seu nascimento. A Irlanda foi o último refúgio da cultura celta, que dominava toda aquela região. Convertida ao cristianismo no século 5, seu povo se dividiu em várias tribos, cujas rivalidades a tornaram vulnerável a ataques externos. Com a ajuda de alguns nobres locais, a Inglaterra acabou tomando conta do território daquele país. A princípio, esse controle respeitou alguns limites, como o parlamento irlandês, mas logo estes limites caíram e o tratamento passou a ser extremamente rigoroso. Em 1534, o rei da Inglaterra, Henrique VIII, separou-se de Roma, fundando a Igreja Anglicana, o que chocou profundamente os nobres irlandeses, seus aliados, e fez com que as relações entre eles se rompessem. Levando ao extremo o domínio sobre o país vizinho, a Inglaterra baixou uma lei que passava todas as terras irlandesas automaticamente para o poder do rei inglês. Aos nobres irlandeses, católicos, que pretendiam reaver suas terras, só restava jurar fidelidade à coroa Inglesa. Além disso, a língua e a cultura do país ocupado foram duramente reprimidas, o que foi gerando verdadeiros motins contra o rei.
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As duas Irlandas
Para consolidar seu domínio, o trono inglês enviou colonos escoceses e ingleses ao país, dando-lhes terras e facilidades. Estes colonos eram presbiterianos ou puritanos, dos quais os irlandeses acabaram virando quase escravos, pois cultivavam suas terras e era obrigados a lhes pagar pesadas cotas das colheitas. Ao longo das décadas, seguiram-se leis cada vez mais cruéis e pragas que arrasaram as plantações, matando milhares de irlandeses de fome. A pobreza extrema impediu que as reações irlandesas dessem algum resultado. Durante o século 19, porém, a reação voltou a se estruturar. Aproveitando a eclosão da primeira guerra mundial, um grupo de militantes da Irmandade Republicana Irlandesa organizou uma série de ataques e tomou posse de muitos pontos estratégicos de Dublin, o que ficou conhecido como Levante da Páscoa. O exército inglês acabou controlando a situação e prendendo quase todos os militantes. A grande maioria dos líderes do movimento foi fuzilada. Foram poupados Michael Collins e Eamon De Valera, que fundaram, respectivamente o Ira e o Sinn Féin, de atuação conjunta, embora o primeiro tenha recorrido à ações de guerrilha e o segundo tenha atuado no campo político. Novamente o exército inglês entrou em cena, abafando violentamente as manifestações. Após vários atentados sangrentos, os irlandeses conseguiram um acordo com a Inglaterra, em 1921, que dava independência parcial à Irlanda e dividia-a em duas partes, a formada pelas regiões majoritariamente protestantes, que permaneceria ligada à Inglaterra, sob a proteção da Irlanda do Norte e a formada pelos católicos, que seria a República Irlandesa. Michel Collins conseguiu que o tratado fosse aprovado pelo parlamento irlandês, sob muitos protestos dos militantes. Foi considerado traidor e morto em uma emboscada em 1922. Somente em 1949 a Irlanda conquistou sua independência.
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Irlanda do Norte - palco dos conflitos sociais
Os protestantes, historicamente contrários à República Irlandesa, ficaram com o controle absoluto da Irlanda do Norte, que, com apoio da Inglaterra, foi se tornando mais rica e industrializada, atraindo a mão de obra dos irlandeses católicos. Não é preciso esforço para entender os conflitos, a partir daí. Os católicos residentes na Irlanda do Norte passaram a ser fortemente discriminados, praticamente sem direitos eleitorais ou de cidadania. Aos poucos porém, sua presença foi aumentando, e, consequentemente, também o foram suas reivindações. Embalados pelas ondas revolucionárias dos anos 60, foram às ruas exigir igualdade de direitos. Os protestos foram violentamente reprimidos, inclusive pelo exército britânico, o IRA renasceu e um acordo de paz só foi assinado em 1994, acordo esse nunca respeitado por nenhum dos lados. Em 1998, 70% da população do país votou a favor de um novo acordo, no qual todos depositaram as esperanças. Todo mês de julho, porém, a tensão aumenta, em virtude das manifestações "religiosas" dos protestantes, que desfilam em cortejo pelas ruas.